Originalmente, a minha ideia para essa newsletter era falar do filme “Sinédoque, Nova York” que foi escrito e dirigido pelo Charlie Kaufman e lançado em 2008.
O problema é que eu ainda não consegui assistir ao filme. Ele não está em nenhum streaming acessível pelo Brasil, e eu não achei nem para alugar. Parece que já esteve no Mubi, mas saiu de exibição.
Se você também não assistiu, o filme é sobre um diretor de teatro em crise que cria uma espécie de realidade alternativa para sua nova peça - uma réplica da cidade de Nova York dentro de um armazém, povoada por centenas de atores. E, nesse mundo artificial, ele passa décadas emaranhado nos problemas e no medo existencial dele.
E sabe aquela coçeira de quando você quer algo mas não pode ter? Pois é, isso me levou a pesquisar um monte de coisas em torno do filme, sobre a produção, sobre os atores, sobre o que aconteceu depois. Então eu não posso te falar do filme, mas posso falar sobre o filme.
Uma das minhas fontes sobre Sinédoque foi esse podcast. O filme foi o primeiro projeto do Charlie Kaufman como diretor. Na época ele já era um roteirista queridinho em Hollywood depois do sucesso de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Adaptação”, e “Quero ser John Malkovich”. Então aconteceu uma coisa meio sem precedentes por lá: o Sinédoque, um filme alternativo e absurdamente conceitual, recebeu um orçamento enorme e uma carta branca da indústria.
O projeto começou bem, com vários atores de peso escalados. Claro, todo mundo queria trabalhar com o Kaufman. E a coisa era muito ambiciosa: tinha todo o set que implicava construir a réplica da cidade num galpão, tinha muitos personagens e extras, e tinha o Philip Seymour Hoffman (que faz o protagonista) em várias idades e graus de abatimento.
Só que a produção parece ter sido um verdadeiro caos - o filme quase não saiu. E, quando finalmente estreou, foi um desastre de bilheteria.
Na época, nem o público nem a crítica souberam muito o que fazer com ele. Preferiram hits pop como “Iron Man” e “Quem quer ser um milionário?”. E foi esse fracasso que marcou o fim das grandes apostas em filmes alternativos dos anos 90 e 2000. Depois disso, Hollywood queria era jogar dinheiro em super heróis.
E Sinédoque, que era tão grandioso, caiu num certo esquecimento. Mas, como o tempo costuma ser bom para os filmes cult, ele acabou cavando seu lugarzinho na cultura. Ele angariou fãs de carteirinha e influenciou gerações de produções que brincam com as linhas entre a vida e a arte. O filme andou para que coisas como “O Ensaio”, da HBO, ou “Jury Duty”, da Amazon, pudessem correr.
No fim da minha busca por entender Sinédoque, eu achei essa entrevista em que o Philip Seymour Hoffman diz essencialmente: “eu acho que todo mundo é um personagem na sua própria vida. Todos são atores excelentes, só não sabem”. E aí fica ainda mais difícil separar a tragédia existencial do personagem, da do ator, que morreu de overdose em 2014.
Quer dizer, eu acho, né? Afinal, eu não assisti ao filme. Ainda.
Nesta semana, no Rádio Novelo Apresenta, uma história sobre peças de teatro, um transplante de rim, e a (suposta) fronteira que divide a realidade e a ficção.
Um abraço,
Sarah Azoubel
Repórter e roteirista da Rádio Novelo
Nesse episódio a Bia Guimarães conta a saga de um grupo de amigos – o Vinicius Calderoni, o Thiago Amaral e a Flavia Melman – e os eventos de vida ou morte que conectaram os três para sempre.
Branca Vianna,
Presidente da Rádio NoveloMinha última obsessão literária saída da Irlanda é a Claire Keegan, que escreve romances que são quase contos, para ler em uma tacada. Até agora li Foster, So late in the day e Pequenas coisas como essas, o único já publicado no Brasil, pela Editora Relicário. Todas são histórias pacatas na superfície, com muita turbulência por baixo, contadas a partir de um ponto de vista único que vai descobrindo, junto com a gente, o que aconteceu ou deixou de acontecer.
No episódio da semana passada, a Flora Thomson-DeVeaux encantou os ouvintes mergulhando nas cartas trazendo “sugestões não pertinentes” para a Constituição de 1988. A @arielaboaventura comentou no nosso Instagram: “Eu enviei minha carta, era uma adolescente de 16 anos e estava encantada com a redemocratização. Sempre na luta!”. E a reprise da história da Gaía Passarelli arrancou muitas lágrimas da audiência (pela primeira ou segunda vez). A @cassiademenezess disse: “Tive que interromper o segundo ato porque tava chorando em público na primeira linha da carta de Gaía”.
acompanhe o trabalho da Novelo • instagram • x • threads • bluesky • facebook • linkedin • nosso site
A vida real anda atrapalhando sua vida saudável? Nossa parceira Liv Up pode dar uma forcinha entregando comida de verdade, com tecnologia de ultracongelamento, na porta da sua casa.
Quer conhecer as mais de 100 opções de pratos e porções individuais que te ajudam a manter uma dieta equilibrada com preço justo? Clique aqui e insira o cupom RADIONOVELO para ganhar 10% de desconto na sua primeira compra com a Liv Up.
Se você sabe de uma história que daria um bom episódio do Rádio Novelo Apresenta, manda um e-mail pra gente em: apresenta@radionovelo.com.br
Sarah Azoubel, já tentou conseguir um torrent pirata de Sinédoque, Nova York? Ou alguma das poucas locadoras de DVD do Rio e de São Paulo? No Rio tem a brava Cavídeo.